06 junho 2013

foto 1 Michael Jackson e Paris Jackson: herança suicida
Escrevi o texto abaixo no dia que Michael Jackson morreu. Relaciona a carreira de Michael com seus maus-tratos na mão do pai, Joseph. Me voltou à memória no instante que li sobre a tentativa de suicídio de Paris, filha adotiva de Michael. Ecoa diferente agora.
O noticiário indica que Paris não quis se matar de verdade. Só queria atenção. E por isso cortou o braço com um cutelo, mas não muito. Tomou remédio, mas um que não é letal. E telefonou para um serviço de emergência para tentativas de suicídio. Seja um grito de desespero, marketing insano, ou pra valer, é triste e mais que esperado. Todos nós lembramos das crianças mascaradas, sendo arrastadas por Jackson mundo afora como miniaturas do Homem-Elefante. Todos sabíamos que o destino delas era duvidoso. É impossível crescer são quando seu pai é Michael Jackson.
O rei do pop também não queria crescer. E não cresceu. Morreu um garotinho em busca de atenção e amor. Sua garotinha segue o pai. Jackson se matou durante décadas, diante dos olhos do mundo. Morreu quando já tinha enterrado há anos sua identidade verdadeira. Será que Michael, de uma maneira completamente diferente, foi tão mau pai quanto Joseph? Diferente da minha conclusão ao final deste texto - escrita no calor do acontecimento - Michael é lembrado no dia de hoje por uma coisa horrível, por sua filha que brinca com a própria vida como se ela não valesse nada. As maldades que os homens fazem vivem muito além de suas mortes...
Michael Jackson aprendeu a cantar como um anjo e dançar como um cafetão fazendo shows em puteiros aos oito anos de idade. Levava surra do pai, Joseph, se não se apresentasse bem, se não ensaiasse o suficiente - qualquer razão era boa. Os irmãos Jackson entravam todos no couro.
Michael, o sétimo filho e óbvia estrela do grupo, apanhava mais. Na casa dos Jackson era deus no céu - Jeová, eram Testemunhas - e Joseph na terra. O pai tinha tentado se dar bem como artista. Acabou metalúrgico e empresário e feitor dos filhos.
Devemos a esta figura detestável o maior artista que a música jamais teve. Contra números não há argumentos. São 750 milhões de discos vendidos até agora.
O Jackson 5 estreou em 1967, mas foi em 1968 que passaram a fazer parte do elenco da mais eficiente máquina de produção de hits em série da música pop. A Motown Records foi fundada por Berry Gordy em 59. Seu primeiro hit foi composta pelo próprio Gordy, “Money (That’s What I Want)”. Declaração de princípios, ou falta de. A Motown fazia qualquer coisa por um sucesso.
Os primeiros singles do Jackson 5 na Motown foram “I Want You Back”, “ABC” “The Love You Save” e “I’ll Be There”. Já mereciam os livros de história. Os programas de TV da época não mentem. Michael era endiabrado. Requebrava como James Brown, cantava como Stevie Wonder e era fofo como um querubim.
O primeiro disco solo chegou aos 17 anos, “Got to Be There”. De 76 a 84, Jackson seria não só o frontman do Jackson 5 - depois rebatizado como The Jacksons - mas seu principal compositor. Em 1978, já com vinte anos, Jackson encontrou uma outra figura paterna.
O experiente jazzista Quincy Jones, diretor musical do filme “The Wiz” - em que Michael encarnava o Espantalho do mundo de Oz - produziria com Jackson “Off The Wall” e “Thriller”. “Thriller” fez a ponte entre o soul dos 60, a disco dos 70 e o novo rock dos 80. Era new wave. Era pop, o melhor do pop de três décadas. E popular: vendeu 109 milhões de cópias, recorde para sempre imbatível.
Jackson tinha 37% do preço de cada disco vendido.
Os anos seguintes foram de esquisitice crescente - parte marketing, parte verdadeira. Em 1987, Michael lançaria “Bad”, uma tentativa de repetir “Thriller”. Vendeu, mas vendeu menos. Soava quase sempre histérico, equivocado e pior, velho. Aos 29 anos, o superastro estava ultrapassado. Era uma anedota bilionária.
O que veio depois é menos importante musicalmente. Em alguns casos, constrangedor. A música piorou. Ficou impossível dissociar Michael, o artista, de Michael, o homem cada vez mais distante de sua humanidade. Com sua morte, tudo será perdoado, como foi a seu ídolo, James Brown. Agora não é mais um slogan vazio: Michael Jackson será para sempre o Rei do Pop.

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